Da excelente crónica de Vicente Jorge Silva no DN de 8-02-2006 que pode ler na íntegra aqui
“....Claro que a questão ultrapassa qualquer padrão de racionalidade, até porque a esmagadora maioria dos que se manifestaram através do mundo islâmico não conheciam de todo o pretexto próximo que supostamente alimentou a sua fúria. Aí chegamos ao outro lado da história, que tem a ver com o desastre total da estratégia americana - e, por omissão, europeia - no Médio Oriente, designadamente no conflito entre Israel e a Palestina, e no Iraque. A cruzada iraquiana de Bush não só ofereceu de bandeja ao terrorismo islâmico uma base de irradiação territorial, como favoreceu o reforço da teocracia xiita iraniana (aliada do núcleo duro do actual Governo de Bagdad) e a sua influência regional, estimulando também o triunfo do Hamas nas eleições palestinianas. Não por acaso, o último discurso de Bush sobre o "estado da Nação" reflecte, dramaticamente, até que ponto a Administração americana perdeu a iniciativa para enfrentar ameaças mil vezes mais perigosas, como é o nuclear iraniano, do que as fictícias armas de destruição maciça de Saddam Hussein. Entradas de leão, saídas de sendeiro...”
“...A utopia simplista de democratização do Médio Oriente, perseguida com obstinada cegueira ideológica pelos missionários neoconservadores, teve um previsível e arrasador efeito de boomerang, como agora se verificou na Palestina. A democracia não é um valor abstracto e que se possa impor de fora a sociedades não seculares, tribais e confessionais. Como escreve Jean Daniel, a "ideia de que a repetição das consultas eleitorais pode garantir o bom uso da liberdade não é de nenhuma utilidade quando um presidente não é eleito senão para interpretar os mandamentos de Deus". E assim se passa das caricaturas de Maomé à caricatura da democracia....”
Sem comentários:
Enviar um comentário