quinta-feira, abril 10, 2008

A DEMOCRACIA EM PORTUGAL!

A qualidade da democracia (ou as gincanas do destino)

Há uns meses, era a claustrofobia democrática. A resposta veio lá de fora: a organização Repórteres sem Fronteiras, analisando a liberdade de imprensa, colocava Portugal em 8.º lugar, a par da Dinamarca e da Irlanda, entre 169 países.

Agora, é a qualidade da democracia. A oposição em peso diz estar em perigo a qualidade da democracia. A Economist, que pôs a sua Intelligence Unit à coca, discorda: “Portugal é o 19.º país mais democrático do mundo, integrando o grupo das full democracies (democracias plenas).”

É de notar que o item no qual Portugal aparece mais bem classificado é o relativo ao "processo eleitoral e pluralismo". O que afecta a sua classificação é a “participação política”, designadamente devido à baixa participação de mulheres no Parlamento e à literacia adulta.

A interpelação parlamentar do PSD na sexta-feira passada sobre a qualidade da democracia foi o tema do artigo de Nuno Brederode Santos no DN:

“Debater sobre a qualidade da Democracia numa democracia com reconhecida qualidade é dar vida ao sonho de qualquer Governo. (…)

O (actual) PSD quer aproveitar todos e, com isso, acaba desvalorizando todos. Cavalga ondas que não previu e não gerou. Solidariza-se com quem não pode senão recusar-lhe a solidariedade (mesmo que ao preço de pedir aos dirigentes do PCP que não passem do umbral do Hotel Vitória). Desorienta um apoio social que acredita na insuficiência do anticomunismo do PS e aceitou melhor as mocas de Rio Maior. Subestima - por desespero, e não por cálculo - o "Deus nos livre do que a gente aguenta" e acredita que a cor certa na gravata, mais o efeito Carla Bruni, se conjugados com uma presença obsessiva na televisão, uns fotogramas de matraquilhos num "bairro problemático" e umas visitas à terceira idade, facturam votos a granel. É o efeito placebo a ganhar esporas, quando o cavalo nunca foi ouvido.

(…) há problemas em democracia. O que eles não são é problemas inerentes à democracia. A Suécia, primeira classificada (europeia, mas também mundial), tem de explicar a Lapónia. A Holanda, a servidão dos imigrantes. A Austrália, a periferia litoral da maior ilha do mundo, como é a vida em Alice Springs, a única cidade continental e interior de algum relevo. Só que aí as oposições denunciam os problemas e avançam soluções. Não escondem a falta delas por detrás da gritaria de que "a ditadura está de volta", dirigida a um povo a quem não disseram, na altura própria, que vivíamos nela. Claro que quem sabe disso já morreu, ou vai morrendo. Mas os avós não acabam sem contar aos netos como foi.

Sei do quanto isto pode desgostar Luís Filipe Menezes. Mas só merece a História quem a faz. Não quem a conta, nem quem posa para ela. O favor de um "paparazzo" não substitui o impacte de uma reforma social. A ambição de um político deve, de resto, começar por deixar marca no quotidiano do seu povo.”

posted by Miguel Abrantes no CÂMARA CORPORATIVA

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