sexta-feira, setembro 19, 2008

EDUARDO SINTRA TORRES NO "PÚBLICO"

A ARTE DE SER NOJENTO

Eduardo Cintra Torres assina um texto — publicado neste 13 de Setembro no P2, caderno do Público — com o título Achtung! Habituem-se! Gulag! Trata-se de um repto dirigido aos jornalistas, a toda a sua classe. Podemos lê-lo a partir de um ponto de vista clínico, e reconhecer nas palavras os sinais da paranóia em grau psicótico. Ou podemos lê-lo pelo lado da responsabilização, e concluir que o autor domina a arte de ser nojento. É esta última a minha opção, posto que não tenho autoridade psiquiátrica.

Comecemos com calma, pela moda mais popular entre publicistas com dificuldades na ligação à Internet:

Habituem-se a ler uns “anónimos” profissionais em blogues dizendo as “opiniões” da central de propaganda. Habituem-se a criticar a oposição e a não criticar o governo.

Estas duas frases constituem um parágrafo. Um parágrafo, convém lembrar, corresponde a alguma unidade de raciocínio. O mesmo acontece numa frase, onde diferentes elementos conceptuais são postos em relação, sendo essa operação que dá azo à substância do pensamento. Munidos destas noções básicas, podemos constatar, com infalível certeza, que ECT pensa e afirma publicamente o seguinte:

- Há profissionais contratados para veicular como “anónimos”, em blogues, “opiniões” favoráveis aos interesses do Governo.
- Os jornalistas não possuem os mecanismos para detectar esses profissionais “anónimos”, nem possuem os recursos para resistir a essas “opiniões” oriundas de uma central de propaganda. Ou, caso os possuam, por alguma razão não estarão a dar uso a essas capacidades.
- Os jornalistas, ao conhecerem as “opiniões” dos “anónimos” contratados para emitirem em blogues as directivas da central de propaganda, passam a criticar em exclusivo a oposição, nunca mais criticando o [sic para a caixa baixa] governo.
- A leitura de blogues é, assim, causa de falhas no profissionalismo, deontologia e ética dos jornalistas.

Repito que se trata apenas de um dos parágrafos do texto, e logo o mais curto. Todavia, consegue o notável feito de reduzir a classe dos jornalistas a um corpo lobotomizado ou escravizado ou cobarde ou vendido, ou tudo isto à vez e à molhada. E faz acusações genéricas, vagas e confusas — na verdade, primárias e grotescas — sem apresentar uma única prova ou pista, sequer local do suposto crime. Tudo indica que ECT ignora que os blogues políticos com mais audiência são os da direita, onde se inclui o do seu mentor Pacheco Pereira, o qual até já veio admitir que o Abrupto vale mais do que uma secretaria de Estado. E também parece altamente provável não ter ninguém avisado ECT da existência de blogues muito frequentados à esquerda do PS, onde a crítica ao Governo é ainda mais feroz e erosiva do que nos blogues de direita. Somando os blogues com mais audiência, ou audiência relevante, à direita e à esquerda, não fica nenhum — atente-se: nenhum — onde apareçam “anónimos” com “opiniões” a cheirar a central de propaganda. Ou será que ele se refere a eventuais comentários nas caixas dos ditos, sendo aí que actuariam os agentes a soldo do Governo? Enfim, de que estará este louco a falar?


Do BLOG ASPIRINA-B

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