12 de Outubro de 2008
Desce e desce ou O Mistério da Rua Viriato, 13
Desce e desce ou O Mistério da Rua Viriato, 13
A secção Sobe e desce do Público nunca terá lá chapadas as carantonhas de José Manuel Fernandes e Joaquim Vieira, pelo menos enquanto estes mantiverem a sua ligação ao jornal. Temos de calçar as galochas e chafurdarmos no submundo para ler uma bem sentida peça onde os animais se chamam pelo nome. Agora que Vieira escreveu sobre o desenlace, Fernanda Câncio volta à carga.
Este episódio cruzou-se, nestas semanas, com a minha ideia de reflectir a respeito da direcção do Público. E tinha uma solução na manga, precisamente o Joaquim Vieira. Acompanhando o seu trabalho de Provedor do leitor, desenhava-se, no rigor e frontalidade com que apontava e corrigia os erros, o perfil ideal para substituir o Zé Manel. É que o Zé Manel tem de ser substituído, mesmo que nunca o venha a ser e lá fique mais mil anos e alguns meses. Tem de ser substituído porque é um fraquíssimo director de imprensa, porque é um sofrível articulista, porque é um medíocre investigador, porque é um inane pensador, porque nem nos seus jornalistas tem mão, como se comprova semana a semana lendo qualquer uma das crónicas dos Provedores, e porque utiliza um jornal – cujo capital de excelência e independência não foi ele a criar, antes a desbaratar – para se envolver em ataques fulanizados a alvos da sua antipatia. O caso da perseguição a Sócrates e António Costa conheceu o momento mais alto quando este último disse no Rádio Clube, em Fevereiro deste ano, o que se repetia por todo o lado. Este é o ponto mais alto do conflito pois é aquele a partir do qual se começou a notar uma mudança, abrandamento ou estratégia de baixa intensidade, na linha sensacionalista que o Público tinha exemplarmente desenvolvido com os casos da licenciatura e das casas; e depois continuado como linha editorial em registo de campanha contra o Governo. Mas é também o ponto mais alto porque é aquele que não admite recuo. Recuar – quando se está perante uma acusação clara e inequivocamente expressa pelo braço-direito de Sócrates, ex-ministro do Governo, segunda figura do PS e presidente da mais importante Câmara do País– é perder. E perder naquele nível, dado o figurino dos adversários, é comprometer irrevogavelmente a credibilidade. Portanto, sim, eu estava a aquecer a possibilidade de ser o Joaquim Vieira a solução perfeita para ocupar um lugar actualmente vago de carácter.
Só que a Fernanda Câncio veio destapar a ferida, e mostrou como está profundamente infectada, a precisar de outro remédio. De facto, se do Zé Manel qualquer comportamento hipócrita é de esperar, do Vieira esperava-se neste caso uma posição inquestionável e reparadora. E nem está em causa o erro gravíssimo e espantoso de ter alinhado numa versão falsa que ofendia gravemente a honra e responsabilidade política e civil de outrem (enfim, creio que em Portugal a chantagem ainda é crime, e cuja punição tem uma correspondência com o poder do agente criminoso). O que está aqui em causa, mais uma vez, é o carácter. Convém dar máxima atenção à passagem da carta de Sócrates onde se pode ler que não foi ele a telefonar para o Zé Manel, antes este a tentar insistentemente chegar à fala com o presumível mafioso, o tirano que vem amordaçando a comunicação social livre em Portugal, mas com quem daria tudo para ir almoçar. Creio que Sócrates não se daria ao trabalho e despudor de relatar com tanto detalhe este aspecto – dando ainda azo a desmentidos de várias testemunhas se não for relato verdadeiro – se ele não estivesse íntima e directamente ligado com o contexto do pretexto para o subtexto invocado na castiça hermenêutica inscrita nas declarações gravadas, afinal, apenas na memória de uns quantos homens de, finalmente, fraca e revolta memória. Isto, como escreveu Sócrates, configura um caso de cobardia. E tenho cá para mim que quando nos acusam de cobardia, há que fazer alguma coisa. O que Joaquim Vieira faz na edição de hoje do Público – ou seja, o que ele não faz – só vem adensar o mistério da Rua Viriato, 131
DO BLOG ASPIRINA B
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