O futebol existe desde o início da civilização e tem uma missão: levar-nos a aceitar o resultado, seja ele qual for. A meta é a consciencialização de que todo e qualquer resultado é o melhor possível, tão válido como outro qualquer. E é só para terminarem que os jogos começam, os fins justificam as partidas na grande teodiceia do pontapé na bola. Dizer que há resultados justos e injustos apenas assinala a necessidade de continuar a ir ao futebol. Pois a justiça nasce da vontade e da lógica, enquanto o resultado é uma flor da sorte. No caso da vitória do Porto neste domingo, o elemento aleatório a ditar o resultado chama-se Paulo Bento.
No dia 5 de Outubro de 2008 deu-se uma mudança de regime na equipa de futebol do Sporting: a monarquia do disparate deu lugar à república das evidências. É evidente que ter Rochemback como médio-ala atacante é das decisões mais estúpidas em toda a História das decisões. Pôr um homem que não devia correr por ordem do médico naquele sítio é desumano. É evidente que Rochemback não pode ter outra posição que não seja a de médio defensivo. A equipa tem de se organizar a partir desta posição central ao baixo, irradiando dos seus pezinhos a distribuição de jogo. Caso ele não possa jogar, por lesão ou cartão, na linha sucessória estão o Moutinho e o Veloso. Mas mantendo a função: pegar na bola e fazer meio golo. É evidente que o Derlei e o Postiga são dois avançados em pré-reforma, sem pernas nem cabeça. Nestas condições, e pensando no que aconteceu na final da Taça, talvez a ave rara Tiuí acertasse mais dos que estes dragõezinhos de papel. É evidente que o Pereirinha não deve ser usado como defesa, onde não rende mesmo que cumpra, mas sim como extremo, pois ele é novo é agora, não daqui a 10 anos. O Pereirinha precisa de jogar e de ter a confiança do técnico para inventar, para ser criativo e tecnicista. É evidente que o Djaló não está a ser aproveitado, pois ele é meio aparvalhado mas compensa com a corrida. Precisa de ficar à mama e conseguir correr até ao fim da linha, altura em que tomará uma de duas opções: centrar ou embicar em direcção ao guarda-redes. Isto é simples de explicar e mais ainda de executar. É evidente que o Miguel Veloso está a revelar-se um bluff, sinal de que não treina bem. Que ele viva um momento de grande produtividade e destruição inglória de espermatozóides, isso não lhe dá imunidade futebolística. Neste momento, é um jogador que quando joga bem apenas consegue ser banal. É evidente que o Vuckcevic é mais sportinguista do que o Paulo Bento, e escusa-se de dizer mais alguma coisa sobre o assunto. É evidente que o Sporting é uma equipa onde não há imaginação, onde não se vê dinâmica de grupo, onde quase ninguém remata à baliza, onde se falham demasiados passes, onde se fazem faltas desnecessárias, onde se protesta com os árbitros por imbecilidade, onde se entra em picardias por falta do mais básico profissionalismo, onde não se pensa. Esta república das evidências tem um prognóstico muito reservado, a monarquia do disparate pode voltar a reinar já no próximo jogo.
Que não espante, então, a tristeza que vai no coração dos adeptos. No estádio, o público esteve alheado, tolhido, magoado. Não gostamos de treinadores e jogadores que se queixam da nossa paixão pelo clube, como se lhes tivéssemos ficado a dever dinheiro das partilhas ou não pudessem tomar banho com água quente no final do jogo. Se é para choramingarem por causa da acústica do estádio, tirai os leões do peito e ide procurar trabalho noutra freguesia. Que inaudito paneleirismo é este, mandar vir com o povo que assiste ao espectáculo e quer ver soldadesca a marchar bravamente em direcção à baliza contrária? Se nem sequer entendem que só existem por nossa causa, façam as malas e abandonem a selva, nem para nutrir abutres servem. A gentinha das queixinhas e dos achaques que vá jogar com os amigos para uma praia na Caparica. E podem criar lá a agremiação desportiva onde se sentirão em casa: Enconados Futebol Clube.
DO BLOG ASPIRINA B
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