quarta-feira, novembro 19, 2008

A LUTA DOS PROFESSORES

Mais do que a revolta de 1956 na Hungria, e do que a invasão da Checoslováquia em 1968, foi a eleição de Carlos Carvalhas para Secretário-Geral do PCP, em 1992, que revelou o erro histórico do marxismo-leninismo. Se era para acabar com sopinhas de massa a comandar a Revolução, alguém se tinha enganado gravemente no caminho. Pois este amigo continua a botar discurso, sempre com o declarado objectivo de vencer a burguesia pelo aborrecimento. As suas crónicas na TSF são desafios ao estado de vigília, o qual já se encontra, de seu natural, basto debilitado para todos os que tenham o bom gosto de não estar na rua às 8.40 da matina. Mas hoje foi especial.

Hoje, Carvalhas apareceu feliz, rejuvenescido, com o grau de tonteira do costume, e confiante que chegasse para nos dizer o seguinte:

Optar pela suspensão, para a Ministra, não seria uma postura de bom-senso e de humildade democrática, mas uma vergonha. E o Governo, em ano de eleições, não pode passar por vergonhas. O ensino e o País que fique em segundo lugar.

Este brilhante raciocínio de Carvalhas desmonta por completo a estratégia do PS: como o ano é de eleições, o Governo pode perder o ensino e o País, remetidos a um segundo lugar, não pode é passar por vergonhas. Faz todo o sentido, é exactamente isso. Fosga-se, Carvalhas, tu topas tudo.


E como não consegue impor o seu modelo pelo convencimento e pela razão [a Ministra], ameaça os professores. Não pode chamar os gorilas, como antigamente.

Inquestionável. Se a Ministra pudesse chamar os gorilas, há muito que esta macacada teria acabado. Mas não pode, azarinho, não estamos no antigamente, esclarece Carvalhas. Ai, eu fico com afrontamentos só de pensar na pobre da Ministra, coitadinha, que não pode chamar os gorilas. E um sagui, pode ser?

Simultaneamente, Primeiro-Ministro e Ministra repetem em uníssono que a lei é para cumprir. É a estratégia da confrontação, em vez de se sentarem à mesa com os sindicatos.

É das piores exibições de arrogância que se pode ter na política, essa de repetir, para mais em coro, ser a Lei para cumprir. Está-se mesmo ver que, com essa atitude de merda, os fachos querem é a confrontação. Afinal, conquistámos a democracia para andar a cumprir leis?! É só malucos. O que a malta quer é faltar aos acordos, recusar-se a negociar e fazer chantagem com greves e boicote às avaliações dos professores e alunos, não estamos com cabeça para essas confusões da lei e não sei quê. Pois se nós nem conseguimos interpretar o que lemos… Ah, e podem sentar-se à mesa com os sindicatos, claro, mas fiquem caladinhos e passem as batatas.

Cavaco Silva disse que a manifestação dos professores é um direito constitucional. Mas podia ter ido mais longe: a resistência a qualquer ordem iníqua e injusta é igualmente um direito. E pela nossa parte acrescentamos: um direito e um dever.

Cavaco Silva podia ter ido mais longe, podia até ter chegado à Madeira, bastando para isso ter dito que temos o direito de nos recusarmos a obedecer a qualquer regra ou preceito que nos desagrade, nos irrite ou provoque comichão. Só que Cavaco não é Carvalhas, e há alturas em que isso se nota. Esta é uma delas, em que ficamos a saber que o PCP entrou em modo de resistência. Todo o militante e simpatizante tem agora o dever de se apresentar na sua célula para receber instruções. É obrigatório levar pelo menos duas dúzias de ovos e um professor. O Partido fornece o talher.

« Publicado por Valupi no ASPIRINA B

Sem comentários: