3. Como se previa, a greve dos professores, foi um “sucesso”. Algumas escolas fecharam, outras foram fechadas, noutras houve apenas uma minoria de professores a dar aulas. Li, no ‘24 Horas’, o caso de um agrupamento de escolas, às portas de Lisboa, onde a greve, todavia, não foi além dos 35% de adesão. Segundo explicou o respectivo director, porque não houve necessidade: ali parece que a malfadada avaliação foi simplificada pelos próprios professores, antes mesmo do Ministério o fazer, e posta em aplicação há mais de um ano, sem burocracias, sem horas perdidas em reuniões, sem complicações. Simplesmente, os professores concordaram com o princípio da avaliação e trataram de o pôr em prática, da forma mais simples e mais justa que entenderam. E não é o primeiro, nem o segundo, nem o terceiro caso que leio de uma escola assim.
Pode ser que se trate apenas de casos excepcionais de ‘fura-greves’ a atirar poeira para os olhos de incautos leitores como eu. Pode ser que sim, mas custa-me um bocado a perceber que, se de facto concordam com o princípio da avaliação, os professores não sejam capazes de chegar a acordo com a ministra quanto a um sistema que entendam justo e adequado, sem conceder quanto ao princípio fundamental de qualquer avaliação: que os melhores sejam compensados. Mas quando vejo a “contraproposta” da Fenprof - auto-avaliação pelos próprios professores a classificar e sem limite de quotas para os “muito bons” - a mim torna-se-me cristalinamente claro que, pelo menos para a Fenprof, do que se trata é de reduzir a avaliação a uma fantochada. De que tudo fique na mesma e de que os medíocres continuem, incólumes e irresponsáveis, a progredir normalmente ao lado dos outros, dos que se preocupam.
Aqui chegados, e visto que nenhuma das partes aceita a condição prévia da outra - que passa por manter ou retirar a avaliação proposta pelo Ministério - a batalha segue para terreno puramente político, se não mesmo eleitoral. Se é que para alguns esse não foi sempre o objectivo final desta longa guerra. O Ministério já recuou duas e três vezes - e em termos até em que a própria avaliação deixa de fazer grande sentido. Parece claro que, em muitas coisas, podia e devia ter recuado antes, mas diz-se que mais vale tarde do que nunca. Neste caso, parece que não: nada que não seja a morte oficial da avaliação e a cabeça da ministra será suficiente para devolver a paz às escolas. Mas, desde que me lembro, nunca os sindicatos dos professores deixaram de exigir a cabeça de um ministro da Educação, fosse ele quem fosse: é um lugar político cujo único futuro é a guilhotina.
A Sócrates só resta escolher entre ceder à rua ou esperar pelas urnas. Sabendo de antemão que a lógica em que vivemos determina que quem perde nas urnas recupera na rua, e vice-versa. É assim eternamente e, para já, com mais um ano de impasse pela frente. O que há a fazer? Nada - eis o triste ponto da situação.» [Expresso assinantes]
Por Miguel Sousa Tavares. no EXPRESSO
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