sábado, abril 09, 2011

AVALIAÇÃO

Sandra Sousa – Se o PS voltar a ganhar as eleições, vai repor a avaliação dos professores?

Sócrates – Com certeza que irei repor a avaliação dos professores, e até espero que ela não seja revogada; porque o que aconteceu foi feio demais. Reparem bem: numa manhã em que os partidos foram a Belém pedir ao senhor Presidente da República para dissolver a Assembleia da República, nessa mesma manhã juntaram-se todos os partidos e fizerem três votações numa manhã – a votação na generalidade, a votação na especialidade e a votação final global – e fizeram-no apenas na expectativa de com isso poderem ganhar um punhado de votos. Eu acho que isso foi mau demais. A isso chama-se uma golpada eleitoral. Foi o que quiserem fazer. E como digo, por um punhado de votos. Com um único objectivo: serem simpáticos com este ou com aquele. Sem o mínimo respeito por quem deu o seu melhor para que o País tivesse um sistema de avaliação consensualizado, que estava a entrar na rotina das escolas. Isso foi um gesto de um eleitoralismo que revela bem as lideranças, sabe. Isso foi um gesto de tal forma irresponsável que ficará para a História a marcar aquilo que é o carácter de uma liderança. Porque isso não se faz, sabe, isso não se faz…

Entrevista

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Como não existe imprensa em Portugal, a oposição que vê Sócrates como um reles corrupto das berças, ou como uma lapa que não quer largar o Poder, nunca é desafiada para este básico exercício de lógica: por que raio alguém tão obscenamente ganancioso e moralmente desprezível se lembrou de atiçar a fúria da classe docente, arrastando na ira as respectivas famílias e amigos, e ainda abrindo o flanco à quinta coluna Alegre, decisão que lhe custou uma segunda maioria (diz-se), quando podia ter feito o mesmo que os outros Governos anteriores em relação à avaliação dos professores e respectiva progressão na carreira, ou seja, niente? Aqueles que o caluniam e ofendem sempre que abrem a bocarra que nos salvem da ignorância: que levou Sócrates a manter Maria de Lurdes Rodrigues, e respectiva política, sem vacilar até às eleições? Digam lá, vá lá.

Num país cuja população tivesse os mínimos de racionalidade colectiva, o que o PSD fez chegaria para acabar com o partido. Porque do PCP e BE, entidades que exploram o regime sem pretenderem contribuir para a comunidade, a pulhice não surpreende. E do CDS, uma coisa que papa tudo o que cheire a populismo, também nem dá vontade de falar. Mas do PSD, um partido que tem uma tradição e uma responsabilidade de governabilidade, o que veio foi uma traição à tal sociedade civil que fingem representar e defender. Se queriam acabar com a avaliação, iam a votos com essa proposta, tal como fez e faz o PS. Assim, chafurdando na dissoluta coligação negativa – a qual interrompeu o processo a meio do ano sem nada apresentar para o substituir e não assumindo qualquer responsabilidade pelas suas consequências nas escolas – o PSD exibiu em alucinação eleitoralista a sua já irrecuperável decadência.

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