Coerência e homenagem

Talvez os checos não o saibam mas a melhor homenagem fúnebre a Vaclav Havel veio de Portugal. Do PCP. Quando este partido recusou, na Assembleia da República, partilhar o voto de pesar aprovado por todos os restantes pertidos pelo falecimento de Havel, houve neste acto não só uma reedição da consabida (e apregoada) "coerência dos comunistas" como uma manifestação de respeito para com o defunto, o povo checo e a nação checa. De facto, uma agremiação político-ideológica que - em 1968 - fora o primeiro partido comunista fora do poder a apoiar a invasão soviética da Checoslováquia; que - enquanto Havel era perseguido e preso - apoiara os ditadores impostos aos povos checoslovacos como títeres da "normalização" pela dogmática neo-estalinista; que um dia antes da morte de Havel enviara as "sentidas condolências" ao povo coreano pela perda de um dos membros da família de tiranos que o oprime; não podia, porque não devia, associar-se à perda de um combatente pela liberdade e pela democracia. Desta vez, a "coerência do PCP" foi uma manifestação justa, por omissão, de justiça para com um justo.
Publicado por João Tunes no Blog ÁGUA LISA
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