Pingo Doce fez saldo do 1.º de Maio
«Como diziam, ontem, os rapazes dos blogues: "Pingo Doce,
50, CGTP e UGT, 0." Uma abada! Se a Fundação Francisco Manuel dos Santos
tiver por lá um sociólogo, ontem foi dia grande para análises. Diz-me a
menina da caixa: "Então não há de haver sociólogo?! Até temos a
Pordata, estatísticas, gráficos e indicadores de Portugal..." Ótimo,
pois há nova percentagem: com 50 por cento de desconto os portugueses
não se importam de andar à lambada por uma embalagem de iogurtes,
esperar duas horas (ticket n.º 287 e já vai no 53) por um quilo de
costeletas e arrastar pelo chão a margarina e as fraldas, aos pontapés
delicados, na bicha para a caixa, porque faltavam carrinhos e as mãos
levavam já um bolo e duas garrafas. É nestes momentos que os sociólogos
nos abrem horizontes: um deles, de voz funda, magro e de barba,
explica-me o erro de vermos um sinal de consumismo nas manifestações
que, à volta da bandeirola "Esvaziar as prateleiras, já!", se
desenrolaram em todo o País. Pelo contrário, disse, estavam ali as
massas mais conscientes, capazes de se libertar do jugo burocrático dos
sindicatos que usurparam o 1.º de Maio! Reparei que o sociólogo
confirmava o resultado dos rapazes dos blogues. A modernidade está
imparável, concluí. Ambicioso, pedi mais lutas: "No Dia de Natal também
vai haver promoção, claro..." O sociólogo cofiou a barba, ficou ainda
mais grave e calou-se. Receio que o Pingo Doce não queira levar a
revolução longe de mais.» [DN]
Autor:
Ferreira Fernandes.
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