terça-feira, janeiro 15, 2013

ATÉ O VASQUINHO DOS COPOS VÊ!!!!

Os maluquinhos de Arroios

Já toda a gente percebeu que o Governo não quer, como disparatadamente proclamou Passos Coelho, "refundar" ou "reformar" o Estado. Essa aventura excede a pequena cabeça da criatura. O que o Governo quer são 4000 milhões de euros, que tenciona extrair ao contribuinte. E foi para chegar a esse objectivo consolador e único que pediu ajuda ao FMI. Percebendo o caso, a sra. Lagarde mandou para Lisboa uma selecção de génios, que sob a direcção do sr. Gaspar se pôs laboriosamente à cata da maquia. O sr. Gaspar não tem um senso muito agudo da realidade, como costuma suceder a quem trabalha em Bruxelas; como os génios da sra. Lagarde, que vivem em Washington, acabam pouco a pouco por se transformar numa raça excêntrica, a que o mundo inteiro tenta desesperadamente fugir.
Os maluquinhos que por aí apareceram traziam uma única ideia: reduzir a despesa do Estado. E descobriram coisas de que nem o dr. Salazar nunca se lembrou. Por exemplo, depois de largas meditações, resolveram propor que o tempo médio de uma aula, em qualquer grau de ensino, passasse de 45 minutos para 60 minutos. Aumentando 33 por cento o horário lectivo dos professores, pensavam com certeza diminuir 25 por cento o número de professores. O truque é de um grande espertalhão; e mostra à saciedade que nenhum dos maluquinhos da sra. Lagarde "deu" uma aula na sua atribulada vida. Para além de garantir que umas centenas de professores seriam quase imediatamente assassinados, não se vê onde esta técnica, de resto original, poderia levar.
Mas considerações dessa ordem não chegam à zona obscura onde o sr. Gaspar e o FMI habitualmente se escondem. Daí também a subtil manobra de subir um ano a idade mínima da reforma (de 65 para 66). Claro que existem dezenas de razões para subir a idade mínima de reforma, só que ninguém ainda se lembrou de a subir um ano. Suponho que era preciso tapar um buraco qualquer na folha dos 4000 milhões de euros (0, 2 por cento ou esse género de catástrofe) e que o maluquinho de serviço se saiu com aquela. Pedro Passos Coelho prometeu anteontem que não usará o Relatório da sra. Lagarde como "Bíblia". O ponto forte da Bíblia não é, comprovadamente, a origem do universo. De qualquer maneira, mesmo a Génese se distingue por uma inteligência e uma exactidão científica que faltam, para nossa desgraça, aos maluquinhos do Relatório. Excepto, evidentemente, se o dr. Passos Coelho descobrir amanhã que a Terra, afinal, é plana.

No "Público" de Domingo!

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