quinta-feira, março 14, 2013

A CREDIBILIDADE DO RELVAS, PASSOS & GASPAR

A direita portuguesa, nos idos de Março de 2011, estava muito desgostada com o Governo socialista. Porque este não tinha credibilidade. Era um Governo que apenas conseguia reunir o apoio dos parceiros europeus, da Comissão Europeia, do Banco Central Europeu e de Merkel. Um grupo não representativo da credibilidade de um país, portanto, especialmente calhando ser um país pertencente à União Europeia. Ainda por cima, essa gentalha estava decidida a apoiar o tal Governo socialista a manter a soberania e a lidar com a inevitável austeridade da forma menos penosa que fosse possível dado o contexto internacional. Mais uma vez, a direita portuguesa recebeu esse plano como péssima notícia para a sua fome de credibilidade. É que se há assunto de que a direita portuguesa perceba e esteja em condições de dar lições a respeito é o da credibilidade; atente-se à História e às suas magnas figuras.
Nesse tempo, a direita portuguesa telefonava amiúde para os mercados a dar conta dos terríveis problemas de credibilidade que a Nação enfrentava. Ele era o Freeport com os seus envelopes castanhos a serem distribuídos nos tascos da Margem Sul. Ele era a Manuela Moura Guedes a ser assediada pelo Rei de Espanha. Ele era o Mário Crespo e a asfixia democrática que mal lhe permitia ter um bloco noticioso na SIC dedicado às suas perseguições. Ele era o Granadeiro e o Bava a fazerem das suas para oferecerem a TVI ao anticristo. Ele era a chatice dos telefonemas de Sócrates para certos jornalistas, porque depois tinham de ficar a falar com ele e a dizer-lhe coisas em privado e isso às vezes durava mais de uma hora. Ele eram umas casas que ofendiam o apurado gosto estético da gente séria e dos imbecis com cartão de imbecil. Ele era aquela cena da licenciatura ao domingo que muito prejudicava a economia e a moral durante o resto da semana. Ele era uma autêntica desgraça para a credibilidade, era o que era.

Não. Para o País recuperar a credibilidade tinha primeiro de perder a pouca credibilidade que tinha, qual raspagem dos tecidos infectados pelo vírus do socialismo descredibilizado e descredibilizador. Foi por isso que a direita portuguesa chumbou o PEC IV, de modo a poder mostrar ao Mundo como é que se conquista a boa credibilidade, aquela mesmo boa, de família. E pensaram “‘Pera aí, temos tantos gajos credíveis, e alguns até super-credíveis, a quem é que podemos entregar a Pátria nesta altura do campeonato?“. A resposta surgiu fulminante: “Ao casal Passos-Relvas, óbvio, que eles depois tratam do resto“. Dito e feito. De imediato juraram haver limites para os sacrifícios pedidos aos portugueses, pelo que a solução era cortar gorduras e baixar impostos – ou, vá lá, não os subir, isso é que não, ui cóhorrrrrooooor, subir impostos? mas isso é tara de socialista, não, não e não, disparates.
Esse discurso da credibilidade durou até ao dia 5 de Junho de 2011 às 20 horas. Logo depois, surgiu outro, completamente contrário. A recuperação da credibilidade entrava na sua fase 2.0, consistindo na subida violenta dos impostos, no corte violento nos salários, no empobrecimento violento da classe média, no aumento violento do desemprego, na redução violenta das ajudas sociais, na convite violento à emigração, no desaparecimento violento da actividade económica. Tratava-se da receita secreta da direita portuguesa para a obtenção da credibilidade, a via da penitência por tanto pecado acumulado. Os portugueses eram madraços e estroinas, tendo contado com a cumplicidade dos socialistas para se perpetuarem e reproduzirem nessa vil condição. Mas esse tempo tinha acabado, finalmente existia um Governo em Portugal que tinha coragem para falar verdade aos portugueses, de caminho mostrando aos mercados e demais estrangeiros interessados no nosso dinheiro que a velha receita do chicote resulta sempre, assim haja força no braço e pachorra para suportar os guinchos da ralé malcheirosa.
Chegados a 2013, o insigne programa de recuperação da credibilidade levado a eito e na mecha pela direita portuguesa revelou-se um tremendo sucesso, como se reconhece publicamente aquém e além fronteiras:
Economia portuguesa é a pior depois da Grécia
Desemprego dispara, défice derrapa, dívida cresce e crescimento encolhe
Pois bem, que fazer com tamanha credibilidade? Repetindo o que repetem ministros, dirigentes e deputados da direita portuguesa, essa credibilidade toda é o que nos permite estar agora em óptimas condições para admitir que a política seguida até aqui não é assim a modos que credível. E se aparecer algum português meio aturdido com esta lógica, basta perguntar-lhe se é socialista. Em caso afirmativo, esse indivíduo não é credível e o assunto fica logo encerrado. Em caso negativo, que tenha cuidado com o que anda para aí a dizer, não vá um dia acordar e descobrir que perdeu tudo o que tinha e o que não tinha, incluindo a credibilidade.

DO BLOG ASPIRINA B

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