quarta-feira, abril 02, 2014

UMA ANÁLISE ECONÓMICA


• Manuel Pinho, Uma questão de aritmética [ontem no Expresso/Economia]:


<![if !vml]><![endif]>«Em 2013, o PIB estava ao nível de 2001 e 7% abaixo do de 2007, pelo que a primeira prioridade é criar um consenso sobre a melhor forma de assegurar uma dinâmica de crescimento que permita uma melhoria sustentada dos padrões de vida da generalidade dos portugueses, sobretudo dos mais desfavorecidos, cuja situação piora de dia para dia. 

O pior é inventar falsos álibis. Por exemplo, é mentira que o PIB tenha recuado para o nível de 2000 por os portugueses serem preguiçosos ou por o Estado ter uma presença excessiva na economia. O quadro abaixo mostra que
 os trabalhadores portugueses trabalham, em média, 20% mais horas/ano do que alemães, holandeses e franceses. O peso da despesa pública no PIB é igual à média da EU, por exemplo, semelhante ao da Holanda e da Áustria, mas muito inferior ao da Bélgica, Finlândia e França. Só faltava a OCDE vir dizer, no Relatório sobre Reformas Económicas — 2014, que de acordo com o indicador PRM (product market regulation) Portugal está no top 10 mundial dos países em que há menos barreiras à concorrência, estando mais bem colocado do que, por exemplo, o Canadá, Luxemburgo, Espanha, França e Suécia. As causas de quase 15 anos de estagnação são outras. 
<![if !vml]><![endif]>Por definição, o crescimento do PIB é igual à soma do crescimento da produtividade (produto por trabalhador) e do crescimento do número de trabalhadores. É uma questão de aritmética, não de economia. O nível de vida em Portugal é baixo porque, como mostra a figura ao lado, a produtividade do trabalho é perto de metade da registada na Holanda, Alemanha, Bélgica e França. Melhorar a produtividade tem que ser o tema central de qualquer discussão séria sobre os consensos a criar na sociedade portuguesa. A produtividade é tão baixa porquê? 
<![if !vml]><![endif]>Porque o stock de capital por trabalhador (máquina, ferramentas, infraestruturas, etc.) e o nível de qualificações da força de trabalho são embaraçosamente baixos. Evidentemente, um trabalhador português que emigre para a Alemanha passa a ter uma produtividade muito superior à que tinha em Portugal, porque tem ao seu dispor um stock de capital mais de três vezes superior, colegas de trabalho com melhor formação e gestores mais competentes. Não há mistério. 

Há duas questões a considerar: como estamos e para onde vamos em termos de stock de capital por trabalhador?

Como estamos? Muito mal. De acordo com as estimativas de Paul De Grauwe (ver quadro),Portugal tem o stock de capital por trabalhador mais baixo entre os países da zona euro, quase 1/3 do da Alemanha e da Holanda. A causa desta situação desoladora é as empresas e o Estado terem investido tão pouco e, nalguns casos, tão mal.
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Para onde vamos? De mal a pior. O stock de capital é o resultado de anos e anos de investimento, que devia estar a aumentar, mas tem vindo a cair a pique.
 Em 2013, a FBCF (formação bruta de capital fixo) foi, a preços constantes, a menor dos últimos 15 anos e pouco mais de metade de quando Portugal aderiu ao euro. Uma catástrofe! 

A queda do investimento não é uma inevitabilidade. Não há, por isso, qualquer razão plausível que explique não haver mais projetos de investimento privado no sector dos bens transacionáveis.
 

Casos como
 a refinaria da Galp em Sines, a unidade da Dow Chemical em Estarreja, a fábrica de papel da Portucel em Setúbal, o projeto da Embraer em Évora, a fábrica de mobiliário da IKEA em Paços de Ferreira, a fábrica de turbinas eólicas da Enercom em Viana do Castelo, etc. Porquê? 
<![if !vml]><![endif]>Há, igualmente, duas questões relativas ao nível de qualificação da força de trabalho que urge responder: como estamos e para onde vamos? 

Como estamos? Muito mal.
 A nova geração tem um nível de educação relativamente próximo da média dos países mais desenvolvidos, o que explica a sua relativa facilidade em emigrar. 

Porém, as gerações mais velhas têm qualificações muito baixas.
 

Apenas 35% dos portugueses com mais de 25 anos terminaram o 2.º ciclo de escolaridade, o que compara com 86% na Alemanha, 84% na Finlândia e 72% em França. Na realidade, de acordo com os dados da OCDE, em Portugal o nível médio de qualificações dos adultos é bastante inferior ao de países que são mais pobres, por exemplo Chile, México e Argentina.
 

Para onde vamos? De mal a pior por duas razões. Primeiro, foram interrompidas as políticas de qualificação dos adultos com um baixo nível de escolaridade, por exemplo, o programa Novas Oportunidades. Porquê? Segundo, muitos portugueses com idade entre os 25 e os 35 anos estão a emigrar para o estrangeiro. (…)»


JOAQUIM CASTILHO

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