sexta-feira, janeiro 16, 2015

A GRANDE MANIF DE PARIS E FRANCISCO LOUÇÃ


Francisco Louçã

11 de Janeiro de 2015, 12:21

Por

Paris neste domingo de inverno

Perguntou-me alguém se me vou sentir bem, hoje em Paris, numa manifestação em que também desfilam, imunizados da plebe pelo rigor do protocolo de Estado, Sarkozy e Hollande, Netanyahu e Orban, Cameron e Passos Coelho, Juncker e tantos outros. Ou seja, alguma da gente que tem feito tanto mal à paz, ao respeito entre os povos, à Europa e até aos direitos democráticos, incluindo o direito de opinião e a liberdade de expressão.
Pois sinto-me mesmo bem. Porque estou onde a minha consciência me manda, a homenagear amigos, como Wolinski, de que aqui falei há dias, em defesa da cultura profana do Charlie Hebdo. E sobretudo porque acho que foi a força da liberdade dos jornalistas que levantou o povo perante o massacre e que mobilizou esses estadistas tão caricaturados e que, mesmo detestando ver-se no cartoon, só podem juntar-se à manifestação.
No desfile republicano de uma cultura popular que nasceu com a revolução francesa, que renasceu com o Maio de 68 e que fez viver a mais radical das liberdades, acotovelam-se decerto muitos calculismos. E até os que pensam que, se este for o enterro de tal iconoclastia, fica aliviada a deslocação. Mas, como acho que Bordallo Pinheiro se divertiria se visse o rei D. Carlos forçado a desfilar para o homenagear, estou certo de que os do Charlie Hebdo ainda desenharão o cinismo dos poderosos que tiveram que se calar e dobrar durante um dia.
Não, não são todos iguais nem são todos Charlie, nem Ahmed, nem as vítimas do supermercado judeu. O nome de tanta desta gente que vai de République a Nation é Liberdade, outros só ali estão porque há tanta gente que assim se chama. Aqui, é de Charlie Hebdo que se trata e não dos que desconfiam do riso e da sua irreverência. Por isso, que bela que é Paris neste domingo de inverno.

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