segunda-feira, fevereiro 02, 2015

ALBERTO GONÇALVES-UM VÓMITO SOBRE A GRÉCIA E SOBRE A EUROPA

ALBERTO GONÇALVES

Eurofestival

por ALBERTO GONÇALVESNo DN de ontem
Há longos anos que a UE treme ante a perspectiva de um partido de extrema-direita chegar ao poder de um dos seus Estados membros. Se tal acontecesse, garantiam-nos que seria o Apocalipse - e isto nas visões mais optimistas.
Ora o suposto Apocalipse acabou de acontecer e, à semelhança de outras calamidades como a gripe suína e as vacas loucas, as profecias eram manifestamente exageradas. A julgar pela satisfação maldisfarçada da maioria dos noticiários e da generalidade da imprensa, o advento na Grécia de umas criaturas com inclinações "fascizantes" é até motivo de júbilo. Não falo apenas do Syriza, acrónimo para Coligação da Esquerda Radical. Falo também da coligação com a direita radical com a qual o Syriza formou governo.
Os Gregos Independentes, ou Anel, partilham com o Syriza o patriotismo, a repulsa pelo "neoliberalismo" e o orgulho no parasitismo local. De brinde, acrescentam-lhe saudáveis doses de xenofobia e ódio racial. Parece que Panos Kammenos, o senhor do Anel, é dado a teorias da conspiração, aliás um sucesso garantido entre trapaceiros ou ignorantes. Em Dezembro passado, acusou os judeus, especialmente os judeus, de fuga fiscal. Não tarda, introduzirá "Os Protocolos dos Sábios do Sião" nos currículos escolares. Para já, o objectivo é submeter os currículos à doutrina Ortodoxa Cristã.
A coisa promete. Segundo inúmeros especialistas, promete mesmo "abalar" a Europa e orientá-la rumo ao fim da austeridade. Por algum motivo que os especialistas não alcançam, os malvados líderes do "sistema" meteram na cabeça que teríamos de empobrecer. Os populistas do Syriza e do Anel preparam-se para demonstrar que é preferível ser rico, principalmente quando o conseguimos à custa do trabalho alheio. Por agora, fica demonstrado que, afinal, os maluquinhos da extrema-direita não representam perigo nenhum - desde que devidamente acompanhados por maluquinhos da extrema-esquerda.
Talvez um dia, em Portugal, a rapaziada do PNR veja abolido o preconceito que injustamente lhe dedicamos. É questão de esperar que um dos sessenta e sete movimentos da esquerda radical precise da direita homónima para formar governo. Tenciono esperar sentado, a contemplar os ventos que sopram de Atenas para ensinar a solidariedade à Europa. A exacta Europa que os nacionalistas do Syriza e do Anel querem acima de tudo destruir: a geopolítica é assim complicada.

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