terça-feira, maio 26, 2015

CERCADOS DE INDIGÊNCIA JORNALÍSTICA- MAIS UM CONTRIBUTO DA "SÁBADO"


Cercados


Está publicado um capítulo do livro “Cercado“: A queda de Sócrates começou aqui. As escutas do curso mal explicado. É uma leitura instrutiva para o estudo de Sócrates enquanto fenómeno, sem paralelo conhecido em Portugal, de obsessão, exploração e manipulação por profissionais da imprensa e da política.
O texto abre com a descrição da trip egóica do António Caldeira, um fulano que se imaginava a despistar uma legião de agentes secretos ao serviço do super-criminoso Sócrates. Tempos maravilhosos. Injecções de adrenalina. O coração a recuperar a frescura dos 12 anos e aquela certeza de que os “Os Cinco” existiam em carne e osso algures na Inglaterra.
Seguem-se as peripécias conhecidas, desde o lançamento da calúnia no blogue do Caldeira até ao seu relançamento pelo Público de um Zé Manel em modo vendetta, contadas por Fernando Esteves num estilo Corín Tellado a merecer justo aplauso. É sempre de elogiar quando um autor veste a farda do vendedor de atoalhados na Feira da Malveira e se mostra orgulhoso com a obra feita. Basta dar um único exemplo:
Se o ódio e a irritação fossem material inflamável, Lisboa ardia nesta manhã, no preciso micromilésimo de segundo em que Sócrates olha para a peça assinada por Felner. Tanta conversa, tanto tempo, tanta pressão, frenesim e excitação para nada. O texto sai – e o socialista explode.
Não estamos perante a excepção mas face à norma. Todo o capítulo – donde, todo o livro, e esteja lá o que estiver – obedece a esta lógica sensacionalista e delirante onde o autor repete ad nauseam a sua visão caricatural de um Sócrates iracundo, tiranete e falho de carácter. Nas declarações que tem feito na promoção livro, este Esteves não se preocupa em esconder ao que vem: trata-se de garantir que Sócrates está politicamente morto. Haja ou não haja condenação na Justiça, a obra aí fica para que ninguém possa alegar desconhecer a natureza do monstro. Entretanto, se fizer uns cobres com a pulhice, também não virá daí grande mal ao mundo.
Ricardo Costa apresentou o livro no seu lançamento. Não faço ideia do que disse. Sei que o seu endosso a mais este produto da indústria da calúnia ilustra à saciedade, e à sociedade, como estamos cercados pela decadência.

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