segunda-feira, julho 20, 2015

AINDA O DIKTAT SOBRE A GRÉCIA

PEDRO MARQUES LOPES

Desta vez foram os gregos

por PEDRO MARQUES LOPESDomingo
Os tempos favorecem afirmações fortes, definitivas: a "Europa acabou", "as instituições europeias estão mortas", "não há democracia na Europa". Não há quem não faça paralelos com momentos marcantes da história europeia: a humilhação imposta ao povo alemão em Versalhes, ou a lembrança de James Galbraith, na Harpers, da invasão soviética da Checoslováquia em 1968 - que considero especialmente feliz. Infelizmente, todas fazem sentido.
De tudo o que aconteceu há um detalhe que nada traz à discussão: a análise daquela infâmia mascarada de documento que os alemães e seus acólitos, com a cumplicidade de todos os outros, impuseram - desta vez foram os gregos, mas chegará a vez de toda a gente que não se submeter. Digamos que a coisa a que alguns chamam acordo se resume a uma carta em que se insulta, achincalha, goza com um povo inteiro. Será que há sequer uma alma que acredita numa receita que já provou à saciedade não resultar? Que impõe ressarcir um valor para os credores que nem vendendo o país todo se pode alcançar? Será que alguém consegue defender, sem ser à luz da mais feroz vontade de humilhar um povo e de desrespeitar os mais básicos princípios democráticos, cláusulas que impõem decisões a tribunais? O que se pode dizer de um documento que nenhuma das partes acredita que pode ser cumprido?
Não, é evidente que não vale a pena perder tempo com tal enormidade.
Importa perceber, sim, o que se pretende atingir com essa coisa, como é que se pode chegar ao extremo de a propor e, sobretudo, quais são as consequências.
Retomo a lembrança de Galbraith. O império russo, na invasão da Checoslováquia, deixou cair definitivamente a máscara de qual era a sua relação com os países chamados socialistas. Igualmente, o processo grego mostrou claramente que a Alemanha só está interessada na Europa na medida em que os seus países se sujeitem ao que ela acha melhor para a própria Alemanha. As dúvidas que restassem sobre o interesse da Alemanha numa Europa mais integrada e mais coesa desapareceram. As instituições europeias funcionarão ou não na medida em que se submetam aos interesses alemães. A lei do mais forte, agora sem disfarces ou subterfúgios.

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