O verdadeiro herói do nosso tempo
por FERREIRA FERNANDESno DN
Donald Trump fascina-me, e não é pela melena ridícula, é mesmo porque ele é um caso. Quer ser presidente americano e insulta os emigrantes, poderosa fatia do eleitorado. Quer ser candidato republicano e diz que não gosta do senador John McCain porque, provoca ele, tendo aquele sido capturado durante a Guerra do Vietname, "não gosto dos que se deixam capturar." Quando Trump andava na limusina do papá a adiar a sua incorporação (que nunca aconteceu), o jato de McCain foi abatido sobre Hanói, ele foi preso e torturado. Quando os norte-vietnamitas o quiseram soltar, em operação de propaganda porque o pai era almirante, McCain recusou - só foi libertado cinco anos depois, já nos finais da guerra, cheio de mazelas no corpo e medalhas no peito. Deste seu colega de partido Trump disse não ser herói de guerra. Parece que Trump faz a sua guerra particular: está farto de dar tiros no pé. Mas dará? É que as sondagens continuam a pô-lo à cabeça dos candidatos republicanos. E se aquela boca (que os fotógrafos dizem nunca conseguir apanhá-la fechada, por estar sempre a dizer coisas, e bombásticas) estiver ao serviço de uma campanha certeira? E se no maluco os eleitores reconhecerem a coerência do maluco que o é sempre? E se os reality shows, que promovem os irresponsáveis, já tiverem inventado um novo tipo de eleitor? Não esquecer que à sua coerente falta de lógica, Trump acrescenta uma lógica antiga e fascinante: "Sou mesmo rico."
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