Orgulho e Preconceito
23 Março 2008 | por Paulo Pinto
Fiquei abismado com a mais recente crónica de José Pacheco Pereira (JPP), publicada no Público de ontem e reproduzida hoje no Abrupto. O tema é a invasão do Iraque. Os argumentos não são famosos, a estratégia é primária, o balanço é tristonho. No fim, fiquei convencido de que há ali uma teimosia irredutível, um orgulho indisfarçável, uma falta de humildade gritante. E um conjunto de ideias preconceituosas a roçar o patético. Sempre tive por sensato que reconhecer o erro não é sinal de fraqueza, mas indício de inteligência. Mudar de opinião não é vergonha, é prova de humanidade. Reconhecer que se avaliou mal e que se julgou pior é sinal de maturidade e marca de abertura de espírito, porque estamos sempre a aprender, porque estamos conscientes das nossas limitações, porque erramos. Porque somos humanos, em suma. JPP não faz nada disto. Ninguém, aliás, exigia que o fizesse. Se não mudou de opinião acerca do assunto, está no seu direito. Como no meu direito estou eu de o comentar. Estamos entendidos acerca disto. Mas escusava de se assumir como mártir, em tom de ironia infeliz, ao afirmar que está a cometer “delito de opinião para o qual uma pequena turba, que só parece grande porque é alimentada pelo silêncio de muitos, pede punição, censura, opróbrio, confissão pública do crime, rasgar de vestes“. Na minha terra, chamava-se a isto “atirar areia para os olhos”. Nem me ponho a escavar considerações prolongadas pelo infeliz uso de “turba” que, pelo que sei, quer dizer algo como “multidão descontrolada, populaça, massa de gente enfurecida, ralé”. Não percebo onde está a “pequena turba“. Uma “pequena turba” é um grupinho. Que, no presente caso, nem sequer é da “populaça” mas, pelos vistos, de políticos, intelectuais, comentadores, jornalistas. Mas percebo que JPP goste de se mostrar acossado. Não percebo é a torrente de atributos e intenções atribuídas aos que o criticam, todas unidas em torno de, segundo as suas palavras, “uma visão do mundo assente num único pilar, o antiamericanismo militante por razões puramente ideológicas”. Depois lá vem a habitual referência ao Bloco de Esquerda e a Mário Soares. Recuso-me a acreditar que JPP pense que quem criticou a invasão do Iraque ou hoje aponte para o cenário catastrófico dos últimos 5 anos o faça apenas movido por “razões ideológicas”. Orgulho e preconceito, escrevo acima. Obstinação e dissimulação, acrecento agora. Porque o fracasso dos 5 anos de guerra é de tal maneira evidente que só uma cegueira por “razões puramente ideológicas” ou outras pode justificar.....
Retirado do Blog CINCO DIAS .Ler a continuação AQUI
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