quarta-feira, junho 22, 2011

TÁCTICAS POLÍTICAS

Eu queria denunciar aqui aquilo que se está a passar em Portugal neste momento, onde é claro que a comunicação social trouxe à luz um plano do Governo para controlar os jornais, para controlar estações de televisão, para controlar estações de rádio.

Ainda esta semana um jornalista muito conhecido viu censurada uma crónica sua também por aparente sugestão do Primeiro-ministro. Perante isto, o Primeiro-ministro José Sócrates tem de dar explicações substanciais ao país e explicar que não está a dominar, a censurar, a liberdade de expressão em Portugal.

Pela forma que estamos a andar, Portugal já não é um Estado de direito. É um Estado de direito formal, onde o primeiro ministro se limita a formalidades, a procedimentos, a formalismos e não quer dar explicações substanciais.

Paulo Rangel ao Parlamento Europeu, Fevereiro de 2010

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É impossível ligar o televisor, papar um vídeo onde alguém diz que entregou envelopes castanhos com uns trocos lá dentro ao actual primeiro-ministro do país onde se calhou nascer e viver e não ficar irremediavelmente afectado nas suas certezas e convicções. Ou sair à rua, olhar para a banca dos jornais e ver impresso numa capa um suposto diálogo telefónico, supostamente captado pela polícia e supostamente validado por magistrados, com base no qual esse jornal mui amigo da transparência sugere que o actual primeiro-ministro do país onde um gajo deu por si a nascer e a viver é uma versão transmontana do Al Capone. Pura e simplesmente, não se resiste a uma campanha deste tipo. Vamos ao tapete porque não há como evitar os golpes sucessivos que acertam em cheio na nossa cabeça.

Mas nem todos os que vão ao tapete ficam por lá a tentar meter conversa com os ácaros. Alguns levantam-se e tentam resolver o problema com redobrada vontade, até porque do outro lado está alguém que só não vai dar cabo deles se não puder. No meu caso, voltar ao combate implicou encontrar um truque chamado Cavaco Silva. As acusações que se lançavam contra Sócrates, desde que o Público iniciou a sua vingança, passando pela perseguição de Moura Guedes e chegando à publicação das escutas do Face Oculta, eram todas de um calibre que permitiria ao Presidente da República intervir decisivamente. Se Belém permanecia em silêncio apreciando o auto-de-fé, então estávamos a lidar com conspirações e calúnias. Curiosamente, ainda hoje há quem mantenha a dualidade sem se dar conta do que ela diz deles próprios no plano moral e/ou cognitivo: por lado, acreditam piamente que Sócrates cometeu inúmeras e gravíssimas ilegalidades, ao ponto de merecer ser julgado criminalmente, por outro lado, não questionam a passividade de Cavaco que, permitindo que se mantivesse no Governo apesar do que se publicava e dizia, teria assim sido o principal cúmplice do monstro. Lá está, os afectos criam mundos paralelos.

Escolho este momento em que Paulo Rangel discursou no Parlamento Europeu como símbolo do que foi um longo período em que a direita nacional lutou pelo poder com uma violência nunca antes vista. Não se trata do episódio mais grave, longe disso, pois nada pode superar a Inventona de Belém e a golpada dos magistrados de Aveiro conluiados com jornalistas, ou o processo de derrube do Governo iniciado com a tomada de posse de Cavaco. O que me fez escolher o Rangel é a mistura da irresponsabilidade com a parolice. Eis um gabiru, candidato a presidente do maior partido da oposição, que não tem o mínimo problema em ir para Estrasburgo dizer que no seu país há um Governo que se rege pelos códigos das ditaduras sul-americanas ou, muito pior, das madeirenses. Esta descontracção estouvada é a marca d’água do modo de fazer política das sucessivas lideranças do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa incluído. Para eles a vida política é apenas uma gozação, um jogo. E sabem que a maior parte dos árbitros é da sua família, pelo que fazer batota é a única regra que aprendem a respeitar.


DO BLOG ASPIRINA B

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