quinta-feira, fevereiro 12, 2015

PARA O PROF ESPADA, O TAL DAS AMPLAS LIBERDADES ANGLO-SAXÓNICAS DESDE A MAGNA CARTA!

Não ver o vizinho é o pecado maior
por FERREIRA FERNANDESno DN

Richard e Mildred Loving, branco e negra, amavam--se mas na Virgínia eram proibidos casais mistos. Foram para a vizinha cidade de Washington, mais permissiva, mas voltaram para viver no seu estado natal. Foram presos e condenados a um ano de prisão, em 1959. Essa uma história real da América quando Harper Lee, em 1960, publicou o seu primeiro livro, Não Matem a Cotovia, sobre um drama de racismo numa época ainda mais dura, os anos 1930, e passado numa América ainda mais profunda, no Alabama, em que os vizinhos pobres, brancos e negros, não se viam. Li o livro, rapaz, na minha Luanda de brancos e negros, também muito cega. Como a garota que narra o romance ouviu de seu pai, o pecado capital é matar o inocente, a cotovia, de belo canto, que só come vermes e não estraga as colheitas. O pai da narradora era o advogado que defendia um negro, que acabará abatido, falsamente acusado de violação duma branca. To Kill a Mockingbird é um belo e comovente livro, com sentido de oportunidade: foi atualíssimo ao ser lançado no momento em que a América começou a libertar-se da sua cegueira racial. Continua a ser sucesso. Quer dizer, não está datado. O título do livro em italiano soube encontrar a fórmula justa, diz: A Escuridão para lá da Sebe. Não ver o vizinho é o pecado capital... O aguardado acontecimento literário de 2015 é Harper Lee, aos 88 anos, ir lançar o seu segundo livro. Para quê? Ainda não percebemos o primeiro.

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