sexta-feira, fevereiro 06, 2015

PENSAR A EUROPA!

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

Armadilha sistémica

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUESNo Público
A crise europeia acelerou de novo. As mudanças ocorrem hora a hora. A história gosta de brincar com as datas. Em 1989, comemorámos dois séculos da Revolução Francesa de 1789, e vimos o eclodir de uma revolução liberal, como se fosse uma sequela tardia, varrer e destruir o império soviético. Há cem anos, em 1914, a Europa lançou-se numa guerra que imolaria o escol da sua juventude. Os impérios foram para a guerra para salvar a face, e acabaram por perdê-la, e ao resto. Em 1914, tudo começou com um sobressalto num pequeno país, a Sérvia. Em 2015, a reiterada possibilidade de bancarrota, e posterior saída da Grécia da zona euro, pode desencadear uma tempestade financeira, mas também social e política, que ninguém pode antecipar em todas as suas consequências. Em 1914, ninguém queria a guerra, como hoje, em 2015, ninguém quer o "Grexit". Nem Atenas, nem Berlim, nem Bruxelas. Em 1914, a lógica militar, corporizada no Plano Schlieffen, que lançou Berlim contra Paris, para se defender da Rússia, emudeceu a prudência política. A mesma prudência que, em 2015, é esmagada pela ortodoxia financeira de um Tratado Orçamental que se tornou um ídolo sedento de sacrifícios. A Grécia, em 2015, tal como a Sérvia, em 1914, depende de outros. A sua fragilidade, como a reação dos mercados o está a revelar, corre o risco de ser maior do que a força dos seus argumentos. Em 2015, tal como em 1914, todos têm alguma razão, ninguém pode arvorar-se a dono da verdade. Será que somos incapazes de ver mais além? Será que não nos poderemos unir, desarmando a armadilha sistémica criada pela persistência dos nossos erros? É urgente uma conferência europeia sobre a dívida. Os que querem isolar a Grécia estão a cometer um crime contra o nosso futuro europeu comum.

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