sexta-feira, junho 12, 2015

CARLOS ABREU AMORIM


Como lidar com os talibãs do laranjal?


Carlos Abreu Amorim e Vieira da Silva estiveram juntos no Política Mesmo do passado dia 23. Um resumo possível, organizado pela TVI24, está aqui: “PS não aprendeu nada com as opções que nos levaram à bancarrota”. Nele vemos o Abreu a passar a cassete que começou a ser tocada diariamente em 2012, a qual só mudará quando mudar a liderança do PSD. Um pouco abaixo na página, podemos aceder à resposta do seu interlocutor. Infelizmente, o programa inteiro não se encontra disponível, apenas esse dois fragmentos em vídeo.
Um outro resumo possível é o que vou fazer recorrendo à memória. De um lado, temos um profissional da retórica em versão baixa política. Para cumprir o seu papel, apenas precisa de ser trapaceiro, condição em que a sua formação de jurista dá muito jeito. Do outro lado, temos um servidor do Estado e um crente no bem comum. Para cumprir o seu papel, não se pode guiar por sofismas porque está genuinamente interessado no progresso social, condição onde a sua formação de economista fornece a base e o horizonte da sua praxis.
Vamos recapitular, clarificar e enfatizar este primeiro ponto em análise: Carlos Abreu Amorim concebe a política como uma técnica sofística onde vale tudo para enganar o eleitor, e esta afirmação pode ser demonstrada sem esforço; José Vieira da Silva concebe a política como a arte da boa governação, onde há critérios de honestidade intelectual a guiarem a argumentação, e esta afirmação pode ser demonstrada sem esforço. Um serve-se da democracia para promover a sua carreira, o outro serve-se da sua carreira para promover a democracia. Quem tiver dúvidas, que ponha o dedo no ar.
Saltemos para uma parte do debate onde o Abreu justificou as mentiras de Passos na campanha eleitoral de 2011 dizendo que elas saíram daquela boca santa antes da assinatura do resgate. O Pedro terá sido apanhado de surpresa pelo que o Catroga disse ter sido um triunfo do PSD junto da Troika, e ainda com o que o próprio Pedro disse quando se vangloriou de não haver diferenças entre o Memorando e o programa do PSD. O facto de o ex-apoiante da Nova Democracia se sentir à-vontade para gozar com o público desta maneira, sem temer ouvir as sirenes da ambulância que o levaria numa camisa-de-forças para o hospício mais perto, é um retrato fiel do estado decadente da direita portuguesa. A isto respondeu Vieira da Silva recordando uma a uma quais tinham sido as metas estabelecidas por Vítor Gaspar no começo da legislatura – portanto, aparentemente, já na posse das informações constantes no Memorando – e de como todas tinham falhado. Todas. Retorquiu de imediato o Abreu apontando para as condições externas. A culpa era dos outros, da estranja. Ocasião para o socialista espetar o ferro: “Então, porque não reconhece também ao Governo anterior a existência de causas externas na origem dos problemas por que passou?…” O Abreu não estava para aí virado, só estava com ânimo para abandalhar o debate. E voltou a passar a cassete, agora num tom mais alto, indiferente a ter acabado de ser exposto como um tratante.

Como é que se lida com a desonestidade intelectual em ambiente de alta pressão como acontece nos debates políticos? A tendência natural, normal, e aquilo que nos cansamos de ver, é a reacção de tentar impedir que o adversário tenha a palavra ou consiga ser ouvido, acabando em algazarra. Infelizmente, esta é a mesmíssima táctica que usa quem faz da desonestidade intelectual o seu método. O resultado favorece o pulha pois impede o confronto de ideias. Assim aconteceu neste debate que analiso, apesar dos bons momentos de Vieira da Silva. Porém, teria sido muito melhor que o impulso emocional fosse dominado e se desse fio ao peixe. Ter deixado o Abreu explicar à sua maneira como é que o Governo de Passos falha tudo a que se propôs sem ter responsabilidade alguma e como é que Sócrates e os seus ministros foram responsáveis pela maior crise económica mundial dos últimos 70 anos, e ainda pela crise das dívidas soberanas na Europa, provocaria um momento de folclore político que, para além do seu valor lúdico, ficaria como uma preciosa lição de pedagogia cívica.

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