Estas pobres crónicas
Como pode um diretor de uma estação de rádio prestigiada ser tão limitado e nada questionar?
Paulo Baldaia é ultimamente o cronista de serviço ao governo. Seja essa postura consciente e convicta ou, pelo contrário, forçada e condicionada, ela transmite do homem uma imagem pobrezinha e serviçal, o que não deixa de se estranhar num quadro de independência de, pelo menos, as estações privadas de comunicação social (com destaque para a TSF). Não se tem paciência para o ler regularmente no DN, mas, de vez em quando, espreita-se o que anda a dizer, à espera de que, pelo menos, um olho tenha conseguido abrir. Nada. A hipnose continua. Hoje, a propósito da sustentabilidade da segurança social, lá está ele no seu posto, de olhos bem fechados, a fazer continência à franqueza e honestidade de Maria Luís ao dizer que a única maneira de equilibrar as contas será cortar nas pensões de reforma atuais.
Há que lembrar a Paulo Baldaia que uma coisa é «falar verdade» – parece ser um facto que os cofres da segurança social não estão cheios como os outros a que Maria Luís se referiu há pouco tempo – , outra coisa é a resolução desse problema. António Costa também é capaz, ó Baldaia, de dizer – e diz – que a sustentabilidade da segurança social está bastante ameaçada (parece que houve uma crise, vê lá tu!, e que as contribuições diminuíram drasticamente). Se António Costa e o PS não o reconhecessem, não apresentariam soluções para o problema no seu programa eleitoral. A proclamação desta verdade não é, pois, exclusiva de Maria Luís. Outra coisa é a proposta de solução. E Baldaia não podia estar mais de acordo com os cortes anunciados, valendo o elogio à ministra igualmente para esta «franqueza». Ora, é simplista demais para um diretor de um órgão de comunicação social (que não seja o Correio da Manhã) a defesa da perspetiva de que novos cortes nas pensões são a solução para tornar a segurança social sustentável. Simplista, básico e deprimente. Um jornalista, e por maioria de razão este, devia ser mais bem informado e isento. Assim, deixo aqui algumas perguntas para Paulo Baldaia responder «honestamente» numa próxima crónica.
O que melhorou com os cortes dos últimos três anos? Por que razão estão os cofres da segurança social depauperados? Se os novos cortes nada resolverem como os anteriores, até onde é legítimo ir? Até à suspensão dos pagamentos? Quais os efeitos na economia de mais uma redução no poder de compra das famílias? Em que medida é errado querer evitar esses efeitos? Como é que se pode criticar quem apresenta alternativas que visam atacar a raiz do problema, ou seja, as fontes de financiamento, o desemprego, a fuga de jovens e o encerramento de empresas, justamente por não terem clientes, embora as medidas previstas demorem seguramente mais do que seis meses a produzir efeitos? Como travar este ciclo vicioso de empobrecimento que vai esvaziando os cofres? Não se trava? Trava-se? E se não se começa já a travar, quando se começa? Talvez Baldaia não concorde com o sistema de segurança social? Prefere que cada um contrate com as seguradoras a sua futura pensão? Sabe Baldaia o que acontece às pensões de milhões de pessoas nessas circunstâncias quando há um crash financeiro?
Para me certificar de que a claustrofobia democrática já era, fico sentada à espera de uma crónica desinteressada. Ou então de uma crónica «verdadeira» a assumir em português que o melhor é cada um tratar da sua pensãozinha e não chatear o Estado, que tem mais que fazer. Como tratar do desemprego de alguns.
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