quinta-feira, junho 11, 2015

O BALDAIA BALDOU-SE




Estas pobres crónicas

Como pode um diretor de uma estação de rádio prestigiada ser tão limitado e nada questionar?
Paulo Baldaia é ultimamente o cronista de serviço ao governo. Seja essa postura consciente e convicta ou, pelo contrário, forçada e condicionada, ela transmite do homem uma imagem pobrezinha e serviçal, o que não deixa de se estranhar num quadro de independência de, pelo menos, as estações privadas de comunicação social (com destaque para a TSF). Não se tem paciência para o ler regularmente no DN, mas, de vez em quando, espreita-se o que anda a dizer, à espera de que, pelo menos, um olho tenha conseguido abrir. Nada. A hipnose continua. Hoje, a propósito da sustentabilidade da segurança social, lá está ele no seu posto, de olhos bem fechados, a fazer continência à franqueza e honestidade de Maria Luís ao dizer que a única maneira de equilibrar as contas será cortar nas pensões de reforma atuais.
Nada do que aqui está dito constitui uma novidade e, com análises muito mais sustentadas, os partidos do arco da governação conhecem bem a dimensão do problema. Por isso, ouvir a ministra das Finanças falar verdade só nos devia surpreender pela positiva. Infelizmente, sem surpresa nenhuma, percebemos rapidamente que em campanha eleitoral vale tudo, menos falar verdade. PSD e CDS, com medo de perder votos, apressaram-se a corrigir Maria Luís Albuquerque e o PS aproveitou para pescar de arrasto entre os actuais pensionistas, jurando que não lhes corta nem um tostão. Sabemos todos que não há almoços grátis e o que não pagam uns terá de ser pago pelos outros. Para que não se fale de guerra de gerações, a solução não pode ser a de ilibar os actuais pensionistas de contribuir para a sustentabilidade do sistema. Todos têm de contribuir solidariamente. É preciso mexer nas pensões em pagamento, nas que já estão em formação e nas que virão a ser formadas com os que agora entram no mercado de trabalho. É a verdade de que fala a ministra, o resto é uma grande mentira que os partidos querem transformar em votos.”
Há que lembrar a Paulo Baldaia que uma coisa é «falar verdade» – parece ser um facto que os cofres da segurança social não estão cheios como os outros a que Maria Luís se referiu há pouco tempo – , outra coisa é a resolução desse problema. António Costa também é capaz, ó Baldaia, de dizer – e diz – que a sustentabilidade da segurança social está bastante ameaçada (parece que houve uma crise, vê lá tu!, e que as contribuições diminuíram drasticamente). Se António Costa e o PS não o reconhecessem, não apresentariam soluções para o problema no seu programa eleitoral. A proclamação desta verdade não é, pois, exclusiva de Maria Luís. Outra coisa é a proposta de solução. E Baldaia não podia estar mais de acordo com os cortes anunciados, valendo o elogio à ministra igualmente para esta «franqueza». Ora, é simplista demais para um diretor de um órgão de comunicação social (que não seja o Correio da Manhã) a defesa da perspetiva de que novos cortes nas pensões são a solução para tornar a segurança social sustentável. Simplista, básico e deprimente. Um jornalista, e por maioria de razão este, devia ser mais bem informado e isento. Assim, deixo aqui algumas perguntas para Paulo Baldaia responder «honestamente» numa próxima crónica.
O que melhorou com os cortes dos últimos três anos? Por que razão estão os cofres da segurança social depauperados? Se os novos cortes nada resolverem como os anteriores, até onde é legítimo ir? Até à suspensão dos pagamentos? Quais os efeitos na economia de mais uma redução no poder de compra das famílias? Em que medida é errado querer evitar esses efeitos? Como é que se pode criticar quem apresenta alternativas que visam atacar a raiz do problema, ou seja, as fontes de financiamento, o desemprego, a fuga de jovens e o encerramento de empresas, justamente por não terem clientes, embora as medidas previstas demorem seguramente mais do que seis meses a produzir efeitos? Como travar este ciclo vicioso de empobrecimento que vai esvaziando os cofres? Não se trava? Trava-se? E se não se começa já a travar, quando se começa? Talvez Baldaia não concorde com o sistema de segurança social? Prefere que cada um contrate com as seguradoras a sua futura pensão? Sabe Baldaia o que acontece às pensões de milhões de pessoas nessas circunstâncias quando há um crash financeiro?
Para me certificar de que a claustrofobia democrática já era, fico sentada à espera de uma crónica desinteressada. Ou então de uma crónica «verdadeira» a assumir em português que o melhor é cada um tratar da sua pensãozinha e não chatear o Estado, que tem mais que fazer. Como tratar do desemprego de alguns.

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