domingo, junho 28, 2015

OS VIDAIS NO ASPIRINA B

Cui bono?

Estrela Serrano chama a atenção para um comentário de João Marques Vidal, o herói do processo Face Oculta, que é um mimo de sobranceria face ao Estado de direito:
Ironizando sobre a polémica à volta da violação do segredo de justiça no caso Sócrates, Marques Vidal atirou: “Os espanhóis [que têm investigado grandes escândalos de corrupção envolvendo os principais partidos políticos] têm um problema de corrupção, os portugueses têm um problema de violação do segredo de justiça”.
No mesmo artigo do Público, aparece outra citação luminosa do tenebroso Teófilo Santiago, o Crachá de Ouro:
Teófilo Santiago realçou o contraste entre os meios dos investigadores e das poderosas defesas, que tentam manipular os media. “Ultimamente até já se atrevem a fazer ameaças”, afirmou, numa clara alusão a algumas declarações, como a de Mário Soares que disse ao juiz que mandou prender Sócrates para se cuidar.
As mensagens que estes dois caubóis estão a transmitir é a de que temos agentes de Justiça que estão dispostos a vencer a “corrupção” e suas “corruptas” defesas legais através de um voluntarismo cujos limites apenas serão conhecidos dos próprios. Esta ideia de uma impunidade justificada pelos fins, e alimentada pelas percepções e convicções, foi também a tese apresentada pelo procurador Rui Cardoso no Prós e Contras de ontem, num descaramento quase igual. Esta figura ocupou o seu tempo no programa a defender os magistrados e chegou ao ponto de alegar que o crime da violação do segredo de justiça não é importante – e nem se deve perder tempo a investigá-lo – porque a sua ocorrência e quadro penal não o justificam. Precisamos de gastar os recursos com crimes que tenham penas maiores, foi a esplêndida tese apresentada ao País. Ao lado da figura estavam outras duas, igualmente impávidas e serenas face à convivência diária com colegas criminosos no seu local de trabalho.
Do lado da Justiça, por esta amostra, nada há a esperar. E tal ficou patente até para os distraídos quando, noutro grande momento da noite, o dançarino Rui Cardoso abriu um sorriso de sublime gozo para dizer que ainda não tinha visto imagem alguma relativa à detenção de Sócrates no aeroporto. Aquelas imagem de um carro a passar, dada na imprensa como sendo a viatura onde foi levado pelos agentes da autoridade, podiam ter lá dentro o Pato Donald. Sic(k).
Veio de Manuel Costa Andrade, professor catedrático da Universidade de Coimbra, o contributo mais sólido e claro acerca do que está em causa na violação do segredo de justiça. Na prática, é a derrocada do Estado de direito. E a sua intervenção poderia resumir-se à passagem em que evoca a pergunta fundamental em todas as investigações criminais: cui bono?
Entretanto, enquanto a comunidade continua letargicamente a ver a banda passar, contribuo com uma máxima que igualmente poderá levar às mesmas pistas: follow the pulhice.
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